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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Como, onde e porque?

Como texto inaugural, acho importante explicar um pouco sobre o que me motivou a começar a escrever sobre minha vida e expor a um número infinito de pessoas registros do meu cotidiano e de minhas impressões. Na verdade, sempre fui arredia a qualquer tipo de exposição de minha vida pessoal. Só fui ter um perfil no facebook há alguns meses, quando minha filha nasceu e os amigos me cobravam fotos e novidades da pequena. Além disso, não posso negar que eu sentia um grande desejo e orgulho de mostrar para o mundo a minha “obra de arte”...
Mas, enfim, o que acontece é que, junto com a maternidade, minha vida mudou muito. Muito mesmo! Antes de ficar grávida ou já grávida, a gente sempre escuta coisas como:
“você vai ver, agora vai mudar tudo”. Eu pensava: “ah, vai mudar mesmo, mas já tenho 28 anos, estou preparada, sei o que estou fazendo, bla bla bla....” Cheia de auto confiança, então, encontrei-me com minha pequenininha no colo. Gente, e agora????? Lembro de tudo (claro, é muito recente ainda, só passou um ano). Lembro da hora do nascimento, do que senti, da cara do meu marido, da carinha da Alice, da primeira vez que dei o peito, da primeira fralda (aliás, primeira fralda que troquei na vida!!!!!), do primeiro cocô.... e por aí vai. Na verdade, a lista de primeiras coisas ainda não está pronta. Nem sei se vai estar um dia.... espero que não.
Bom, o fato é que tudo correu bem. Claro, tirando todas as dificuldades inerentes da maternidade: sentir-se presa em casa por um tempo, acordar de madrugada, preocupar-se com todo tipo de suspiro do bebê, sentir-se feia, limpar muito cocô,........ Mas, apesar de tudo isso, a coisa foi indo e tomando rumo. A grande reviravolta ocorreu mesmo quando minha filha tinha sete meses.
Até então, tudo tinha dado certo. Aos cinco meses, eu voltei a trabalhar. Dava aula três manhãs, meu marido ficava com ela nesse período. Eu saía às 8:30, voltava às 13h. A amamentação foi um sucesso (graças a Deus), conseguimos não dar nem chupeta nem mamadeira, ela dormia relativamente bem à noite,...... enfim, eu achava que estava tudo perfeito, como eu tinha planejado. Até que, aconteceu uma coisa ótima, mas terrível ao mesmo tempo.
Sempre imaginei que ficaria em casa, dando aula só pela manhã até que a Alice fizesse 2 ou 3 anos. Assim, ela poderia ser amamentada, eu daria todo o carinho necessário, cozinharia para ela, cuidaria dela,.... enfim meu mundo seria somente a MINHA BEBÊ. Mas, nesse meio tempo, apareceu no meu email uma proposta de trabalho. Do lado da minha casa praticamente (10 minutos de carro). A princípio, pensei que era um trabalho freelancer, para fazer em casa e ganhar um dinheirinho extra. Era para editor de texto. Como dinheiro não faz mal a ninguém.... mandei um currículo, sem muitas esperanças, na verdade, porque eu não tinha nenhuma experiência na área.
Pois, nesse momento, eu deixei de ser somente MÃE e voltei a ser a PROFISSIONAL MULHER. Aconteceu que me chamaram para fazer um teste, depois uma entrevista e pronto, consegui o emprego. Simples assim. Na verdade, nunca foi tão simples: eu não estava procurando, estava muito feliz como dona de casa/mãe, sentia-me realizando o sonho da maternidade.....e uma coisa dessas desaba na minha cabeça. O problema é que não era um freela. Era emprego mesmo, com carteira assinada, salário mensal, plano de saúde e.......8 horas e 45 min por dia, segunda a sexta.
Gente, aí eu pude ver como, realmente, a maternidade mudaria minha vida. Entendi que mudar a vida, seria mudar tudo mesmo. Minhas escolhas não eram só minhas agora. Eu tinha uma bebê. Eu era mãe e, justamente agora, apareceu uma oportunidade com salário razoável, do lado de casa, em uma universidade....... era tudo que eu sempre quis. Mas, e agora?????? Gente, agora eu sou mãe. Porque isso não aconteceu depois. Não podia esperar mais uns 2 anos????
Ai Deus, como foi difícil..... lembrando agora, alguns meses depois, me dá até uma angústia. É como reviver todo aquele sentimento. Só, então, consegui entender o que era a culpa materna da qual muitos falavam e sobre a qual eu nunca nem tinha pensado.
A princípio, pensei em não aceitar o emprego e continuar a vida como estava. Mas, o problema, é que a semente já estava lançada na minha cabeça... e, uma vez lançada a semente, não tinha o que fazer. Eu me sentiria frustrada de qualquer jeito. Aceitando, eu pensaria que seria uma mãe relapsa, recusando, eu pensaria que estaria jogando fora uma oportunidade que eu não sei se teria de volta.
Como nem tudo é tristeza, graças ao bom Deus, eu tenho pessoas na vida com as quais sempre pude contar incondicionalmente. Uma delas é MINHA MÃE. Engraçado como a vida dá voltas: a minha mãe falando comigo sobre ser mãe. Eu sou sua filha e, a partir de então, me dei conta do que as mães passam pela gente. Dos sentimentos que sentem, das dores que passam, das incertezas,.... afinal, antes de ser minha mãe, ela, como mulher, é MÃE. Não sei se dá para entender, é difícil explicar isso. Tem algo de filosófico em todo esse assunto que eu sinto mais do que entendo, por isso é muito difícil explicar.
O fato é que minha mãe se dispôs a ficar com minha pequena. Dá para entender o tamanho disso????? Gente, a minha mãe disse que abriria mão de sua liberdade, da sua rotina, para me ajudar, para eu realizar um novo projeto profissional. Realmente, isso é ser mãe.
Ela me aconselhou muito. Falamos sobre o fato de essa ser somente uma das fases da vida da Alice e o fato de eu trabalhar não significa que eu estaria abandonando minha filha (era isso que eu sentia) e que, além de tudo, tinha o lado financeiro. Meu marido trabalha, mas.... sabe como é, estamos começando nossa vida, construindo nossa casa, todos precisamos de dinheiro. Infelizmente é assim.
Resolvi, então, aceitar o emprego. Mas, impus algumas condições para mim mesma: continuaria amamentando; na hora do almoço (1h e 15 min) iria para casa todo dia ver minha filha, nem que, para isso, eu não almoçasse. E a mais importante condição: uma vez terminado o expediente, iria correndo para casa para ficar com ela. Ou seja, a única coisa que faria, além de trabalhar: ficar com a minha filha!!!!! Porque? Porque queria e quero que ela tenha uma mãe presente, uma mãe que brinca, que dá atenção, que escuta, em quem ela pode confiar. E sei que esse tipo de coisa a gente constrói. A relação mãe-filha que quero estabelecer com ela é construída a cada dia, a cada olhar, a cada risada, a cada conversa (conversa de bebê, por enquanto)...... assim como a relação que a minha mãe construiu comigo. Tenho plena certeza disso! O vínculo é edificado. Ele não acontece só porque eu sou mãe biológica. Ele acontece porque eu, conscientemente, faço tudo para ele existir.
Essa construção tem um preço: não saio sozinha para tomar um café com as amigas há bastante tempo. Minha casa vive bagunçada porque priorizo o tempo para ficar com a minha filha. Chego em casa todo dia cansada de ter trabalhado e começa uma segunda maratona, que se inicia com jantinha, muita brincadeira, risadinhas, gritinhos, beijinhos, banho gostosinho, mamazinho, mais carinho e soninho do lado da mamãe e do papai (sim, ela dorme na nossa cama, mas isso é assunto para outro dia). Claro que a segunda maratona é infinitamente melhor do que a primeira, mas isso não significa que ela não seja igualmente esgotadora.
Bom, hoje as coisas já entraram em uma rotina e em um ritmo mais definido e já me sinto muito mais tranquila em relação à escolha que fiz. É a melhor? Não sei, sinceramente, não sei. Não sei como seria se tivesse optado por continuar em casa. Quem sabe problemas financeiros poderiam estar atrapalhando muito nossa vida e, no fim, eu não valorizaria tanto, como valorizo hoje, o tempo que passo com minha filha. O fato é que olho para ela, com seus quatro dentinhos (quase seis) sempre sorridente, esperta e brincalhona e posso ficar tranquila que, por enquanto, as coisas estão caminhando bem desse modo.
Com todas essas mudanças, algo muito bom também aconteceu: eu busquei me informar muito mais. Descobri o poder dos blogs, o poder de escutar outras mães e compartilhar suas angústias, seus medos, suas aflições. Isso me ajudou a descobrir outras soluções, além das recomendações pediátricas, tais como: a criação com apego, a cama compartilhada, o poder da amamentação (que eu já conhecia instintivamente, mas passei a conhecer mais a fundo). São os relatos da internet, de tanta mães (e pais também) da era moderna que buscam soluções para criarem seus bebês em um mundo/país que desvaloriza a mulher profissional que tem filhos (vamos combinar, uma licença maternidade de quatro meses é uma piada. Quem trabalha e tem filhos sabe perfeitamente disso).
Descobri efetivamente que nós, mulheres, podemos buscar outras soluções, podemos contar com quem está do lado e, principalmente, acreditar no nosso poder. Empodeirar-se!!!!!! Ser mãe é maravilhoso, mas é extremamente complicado. Exige uma série de escolhas, de perguntas (em geral, sem respostas), de dúvidas, de angústias.
Por todos esses motivos tenho somente a agradecer às autoras de blogs como Cientista que virou mãe (Ligia Moreiras Sena), do pessoal do Infância Livre de Consumismo e tantos outros que nem conheço pessoalmente, mas que me ajudaram a encontrar caminhos capazes de me mostrar possíveis soluções para meus questionamentos maternos.
Por todas essas razões, senti a necessidade de também contribuir com outras mães que, como eu, buscam suas respostas, seus caminhos, suas escolhas,.... é muito bom quando você acha um texto que conversa com você e que parece dividir suas dúvidas. Assim, de tudo que estou aprendendo todo dia, tenho somente uma certeza: sou mãe, mas ainda estou aprendendo a ser mãe.Porque ser mãe é algo que se aprende sendo. Não tem manual, não tem instruções, não tem faculdade, não tem nada que dê conta perfeitamente. O que sempre me ajuda é ouvir outras mães que, como eu, estão aprendendo na mesma medida que estão sendo.
Por tudo isso, eu fecho essa fala com a seguinte conclusão: eu pensei que sabia como minha vida mudaria e como seria difícil. Mas, definitivamente, eu não sabia NADA!!!!!!



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